Este livro fala de muitas coisas.
Fala do mar numa perspectiva da arqueologia da paisagem. Da enseada de Olhos de Meninos, em Salvador, interpretando-a enquanto paisagem sagrada resignificada por grupos afro-brasileiros, a partir da implantação de um assentamento de Exu, divindade africana do panteão iorubano: o mensageiro por natureza; aquele à quem tudo foi contado; o primeiro que come; o responsável pelo movimento, pelas mudanças, pelo comércio e trocas; pela reprodução da vida. Assim, a paisagem sagrada fala também da feira, do porto, dos lugares de movimento intenso e contínuo, mas considerados marginais, desde sempre, pelo poder público que lhe conferiu significado de exclusão, abandono e segregação social. A presença da divindade, contudo, demonstra como as gentes, não somente da Enseada de Olhos dos Meninos, mas de toda a Cidade Baixa de Salvador, agenciaram estes lugares, conferindo à paisagem portuária um lugar de memória diaspórica negra africana.